“We have to move faster and faster
to know where we belong
We need to move faster and faster
to know where we must go
to know where we must go
'cause the world is in your hands
It's time to free your mind
'cause the world is in your
time to free your mind”
Chegamos a casa e Mélanie está sentada no sofá em frente da televisão a ver um qualquer programa americano. Quando nos vê entrar levanta-se muito rapidamente e vem cumprimentá-los. Sempre muito educada.
Ficamos horas na conversa, a relembrar o passado. Principalmente eu e Bill que éramos os melhores amigos na infância e nos separamos quando fui para os Estados Unidos.
***
Passados uns dias eles voltam cá a casa. Estou sozinha, pois Mélanie disse que precisava de comprar umas coisas e saiu para ir a um shopping.
Recebo-os e ficamos na sala a conversar. Começo a olhar para o relógio, Mélanie saiu à três horas atrás e ainda não disse nada. Ficara de me ligar se se atrasa-se pois vamos jantar todos juntos. Não dá sinais de vida. Pego no telemóvel e marco o seu número, após vários toques a chamada entra no voicemail. Volto a tentar, mais uma e outra vez, nada. Ela não atende.
- O que se passa? – pergunta-me Tom, ao ver-me sempre agarrada ao telemóvel.
- A Mélanie saiu e nunca mais disse nada. Ela disse que se fosse chegar atrasada me avisava. Mas ainda não disse nada nem atende o telemóvel.
Pouso o telemóvel em cima da mesinha da sala entre os sofás. Não vale a pena continuar a insistir. Ela quando quiser diz alguma coisa. Mal pouso o telemóvel, este começa a tocar.
- Deve ser ela! – pego no telemóvel e olho para o visor, número privado, Mélanie não tem número privado – Afinal não é ela… - carrego no botão para atender a chamada – Sim??
- Olá, Angel. Sabes quem sou?
Levanto-me do sofá e afasto-me para que não ouçam a conversa. Olho para trás e verifico que não me tomam atenção.
- Claro que sei. Reconheço a tua voz em qualquer lado. É insuportável!
- Se fosse a ti falava com jeitinho para mim…É que eu tenho a tua amiga…
- Não me chateies… - preparo-me para desligar o telefonema.
- Angel…Ajuda-me, por favor… - suplica a voz de Mélanie do outro lado da linha – Agora já acreditas em mim?
- Se lhe fazes alguma coisa eu mato-te, Brian! – não me consigo conter e acabo por gritar para o telemóvel, chamando a atenção de todos os presentes na sala, que agora me observam com atenção – O que queres? Fala!!
- Tu sabes muito bem o que quero. Hoje, vinte e três horas, saída da cidade. Não falhes ou nunca mais a vês.
Desliga a chamada sem me deixar responder nada. Sem me deixar reagir. Estou entre a espada e a parede.
Volto para o sofá. Olho para o relógio que marca dez para as vinte horas. Todos me observam, todos me interrogam com o olhar.
- A Mélanie foi raptada.
- Mas como? Por quem? Tu trataste-o pelo nome…Conheces? – sou bombardeada com perguntas, vindas de todos eles.
- Ele chamasse Brian e é um ex-namorado meu. Ele nunca aceitou que eu o deixasse e então tem-me perseguido desde aí.
- Mas o que é que ele quer de ti? Que voltes para ele? – pergunta-me Bill, sentado ao meu lado.
- Não. Ele quer dinheiro ou estragar-me a vida. Ele quer que eu corra contra ele.
- Correr contra ele? Não percebo. – diz Gustav observando-me.
Explico-lhes a história toda.
- Eu participo em corridas de carros ilegais. Ele também e é aí que ele quer que eu corra contra ele. Mas nós temos um contrato. Eu devia estar maluca quando assinei aquilo. Mas a verdade é que está assinado e ele tem o original. E o contrato estipula que se eu correr contra ele e perder tenho de lhe dar 20 mil dólares, se ganhar ele tem autorização para divulgar à imprensa e aos meus pais o que eu faço. Ele tem como provar que participo nas corridas. E eu posso ser presa por causa disso.
Todos me olham chocados com esta mirabolante história, mirabolante mas verdadeira. Seja qual for o desfecho da corrida eu fico a perder. Se tiro 20 mil dólares das contas do meu pai, ele mata-me. Se descobre a minha vida secreta, mata-me na mesma. Estou ferrada de qualquer das maneiras.
A única coisa que sei é que tenho de tirar Mélanie da beira dele.
- Onde é que ele está? – pergunta Georg.
- Deve estar hospedado em algum hotel. Porquê?
- Nós ajudamos-te. Roubamos o contrato enquanto corres contra ele. – responde-me seriamente – Se ele pretende executar uma ou outra parte do contrato, deve andar com ele. O que significa que a trouxe para a Alemanha com ele. Mas também não se deve dar ao luxo de o perder, logo deixá-lo-á no quarto.
***
Vinte para as onze horas. Com um plano engendrado e com o nome do hotel num papel, os quatro rapazes saem de minha casa em busca do contrato.
Saio também, mas em direcção ao local da corrida. Acelero até lá sempre com o meu pensamento em Mélanie.
Não importa se estrago a minha vida, desde que estejas bem…
Amiga…
Chego ao local poucos minutos depois. Brian já se encontra lá, sentado no capo do carro espera-me. Paro o carro e saio lentamente. Deito várias madeixas de cabelo para trás e aproximo-me dele, sempre mantendo uma certa distância.
- Onde está ela?
- Tanta pressa. Ela está bem. Se me ganhares eu digo-te onde a encontrar.
- Se eu ganhar? – pergunto confusa.
- Sim, isso mesmo. Já não me interessa o teu dinheiro, ganho muito mais em vender a tua história aos jornais e revistas. Se perderes…Bem… Se perderes diz adeus à tua amiga. E claro que quero o dinheiro que estipulamos no contrato.
Sorrio-lhe em resposta, não posso deixar que note que me afecta. Tenho de ser forte pela minha amiga. Viro as costas e entro novamente no carro. Mais carros se aproximam, aparentemente existem mais convidados para esta festa. Ele não quis deixar esta corrida apenas entre nós, quer testemunhas.
O meu telemóvel toca, abro a tampa e atendo.
- Já temos o contrato! – soa a voz de Bill do outro lado da linha – Por favor tem cuidado! Eu…Não quero que te aconteça nada de mal.
- Não te preocupes. Eu telefono no fim, voltem para minha casa.
Desligo sem o deixar dizer mais nada. Olho pelo retrovisor para o carro de Brian. Este já se encontra dentro do carro e prepara-se para ir para a linha de partida. Ligo também o motor e faço o mesmo.
Uma rapariga com aproximadamente a minha idade encontra-se na linha com um lenço na mão. Será ela a sinalizar a partida.
Ele ergue vagarosamente o lenço, espera uns segundos, larga-o.
Ambos arrancamos furiosamente. Grande velocidade, adrenalina. Liberdade. Ultrapasso-o numa curva perigosa. Ele sabe que não tenho medo de manobras arriscadas.
Sigo na frente mais uns quilómetros até ser ultrapassada por ele numa recta. Todas as curvas estão sinalizadas com pessoas em carros alterados que filmam a nossa corrida com os seus telemóveis.
Última recta. Acelero a fundo, ele também. O motor do meu carro tem mais potencia que o dele, acabo por o ultrapassar nos últimos segundos antes de cortar a meta.
Venço a corrida.
Paro o carro alguns metros à frente. Saio e dirijo-me ao seu carro ainda em movimento. Ele pára a centímetros das minhas pernas. Não me afasto, apenas o olho seriamente. Ele estende o braço para fora do vidro do carro, segurando um papel na mão. Arranco-lhe o papel da mão e corro para o carro.
Já de volta à estrada leio o papel, uma morada. Não sei onde fica. Pego no telemóvel, chamo o número do qual Bill me ligara.
- Bill preciso de ajuda. Ele deu-me um papel com uma morada, mas eu já não conheço nada aqui. Não sei onde fica. Espera-me no portão de casa, estou a chegar.